quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre a Nação e o Nacionalismo

De modo genérico, revejo-me nas permissas do Nacionalismo, enquanto este compreende a Nação como uma entidade moral e intemporal. No seio desta entidade é suposto haver um colectivo com uma identidade própria, a qual é reconhecida e assumida pela maioria dos Portugueses. Revejo-me no Nacionalismo enquanto defesa dessa mesma identidade e dos valores e das instituições que lhes estão subjacentes.

Neste sentido, penso que o nacionalista deve repudiar a ingerência e a adopção de modelos e valores estranhos e estrangeiros – em especial quando estes nada de bom acrescentam e se revelam inadaptáveis à nossa cultura e tradição –, assim como outros que, tidos como valores e premissas nacionalistas vindos de outras paragens, na sua essência e na sua intenção representam a antítese daquilo que podemos definir como Portugalidade - isto é, conjunto de valores, tradições e características étnicas e culturais de Portugal. Neste conjunto de valores, tem sempre de se assumir, independentemente da crença ou descrença de cada um, a matriz cristã, católica que de modo indelével marcou e marca a entidade e a identidade de que aqui se fala.

Existem princípios e objectivos de alguns nacionalismos cujos ecos cá chegam e acriticamente são, muitas vezes, adoptados. Alguns deles representam a mais pura antiportugalidade. É o caso do zelo pela supremacia e pela pureza rácica de uma suposta etnia nacional, que no nosso caso – pelo menos do ponto de vista biológico, genético e antropológico – definitivamente não existe. Já Herculano, seguido de Oliveira Martins e de Orlando Ribeiro desmistificaram fundamentadamente o mito da Lusitânia e dos Lusitanos.

A abordagem dos problemas relacionados com a imigração merecem também uma análise crítica, tendo como ponto de reflexão aquilo de deve ser entendido como espaços e povos lusófonos e os próprios antecedentes históricos da diáspora portuguesa.

Por outro lado, a abordagem das questões relacionadas com a Globalização, seja ela cultural ou económica, estão longe de ser lineares para quem tem preocupações nacionalistas e identitárias. Pois a tradição deve ser estudada de modo a identificar aquilo que de externo ela própria contém. E daí concluir-se que a rejeição liminar e definitiva de tudo quanto vem de fora não apenas é contraproducente como vai contra a tradição nacional em si mesma.

No ponto de vista económico, creio que não é de todo em todo antinacionalista ter a noção dos inconvenientes e dos falhanços dos modelos proteccionistas, em especial os do tipo colbertista, não apenas em Portugal como por esse mundo fora. Contudo, rejeição mais veemente me merece um livre-cambismo desregulado e submetido a interesses estranhos à Nação.

Não creio o que escrevi atrás seja alguma forma de subjectivismo ou de relativismo. Também não é nenhum apelo à moderação e muito menos ao politicamente correcto, conceitos que a mim pouco dizem. Estou convicto de que para se defender Portugal, há que pensá-lo primeiro e conhecer aquilo que ele foi, é e poderá ser. Aquilo que é mito e aquilo que pura e simplesmente permanece. No entanto, estou consciente de que outros nacionalistas e não-nacionalistas podem fazê-lo muito melhor do que eu.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Momento de poesia de Natal

NATAL...

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
'Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

FERNANDO PESSOA
Notícias Ilustrado, 30 de Dezembro de 1928

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Red Bull dá asas ao socialismo centralista

Muito foi dito e ainda se poderá dizer sobre o famigerado caso da deslocação do evento Red Bull Air Race do Porto para Lisboa. Podemos bradar contra a crónica centralização, contra a macrocefalia, contra o sistema, contra o País e apontar mil e um culpados e excitar os mais disparatados bairrismos. A mim o que mais interessa é a perspectiva municipalista.
Dentro desta perspectiva, soa um pouco a procedimento de qualidade duvidosa o total de cerca de um milhão e trezentos mil euros que o evento custou à empresa pública Turismo de Portugal durante os três anos que foi efectuada na Invicta, mesmo que o retorno das receitas fiscais em termos turísticos e hoteleiros cobrisse boa parte do investimento e se estivesse a contribuir para o fomento do turismo da região - o que na minha opinião foi manifestamente insuficiente. Por outro lado, todavia, não deixa de ser um aviltamento despudorado que essa mesma empresa invista um montante de quase o dobro para transferir o evento para Lisboa.
Numa perspectiva municipalista cada uma das cidades pode organizar os eventos que seja capaz de assumir em termos financeiros e de infra-estruturas. Nunca se daria uma transferência de um evento de uma cidade para outra à custa o erário público e sob a responsabilidade de uma empresa pública, com custos associados e muito prejudiciais para uma região de Portugal.
Numa perspectiva municipalista, quem quer brincadeiras com aviõezinhos, carrinhos, futebóis e quejandos pois que as pague do seu bolso. Se assim fosse, pouco me ralava com o voo dos planadores para Lisboa, para Hong Kong ou para a Conchichina.
Enfim, temos o Socialismo no seu melhor - o centralismo pago pelo bolso do contribuinte.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O futuro da democracia portuguesa

Dentre os vários desafios que esperam o País no futuro, a bem da própria sobrevivência, o sistema político-eleitoral, ou seja o tipo de democracia a adoptar, será um deles. Talvez o mais importante, pelo facto de com ele se relacionarem outros aspectos. Como por exemplo, o que respeita à reforma administrativa, caso a descentralização venha a concretizar-se. Seja através da regionalização ou de outro processo alternativo - como o municipalismo -, os processos eleitorais deverão obedecer a outro tipo de batalhas políticas com outro tipo de representatividade diferente da partidária. Isto irá implicar a adopção da democracia directa sob a forma referendária e plesbicitária com vista à resolução de questões de governo local.

O envolvimento dos cidadãos nas decisões políticas de âmbito local irá desencadear e fazer evoluir, mais cedo ou mais tarde, uma consciência política e cívica bem mais interventiva e exigente do que a actual e isso irá repercutir-se nas questões de âmbito nacional. O governo nacional, por sua vez, verá delegados muitos dos problemas actuais para o foro local ou regional, provavelmente incluindo questões relacionadas com a saúde, a educação e a cultura. A partidarite e os respectivos jogos de influências terão, portanto, de alterar seus contextos e o sistema partidário poderá deixar de ser tão decisivo e dar lugar a uma revisão constitucional de grande monta - bem necessária e tardia, diga-se. Por sua vez, as questões nacionais esbarrarão sempre no novo poder local, o que por seu turno dará origem a duas possíveis situações: referendos nacionais de sufrágio universal - mais democracia directa, portanto -, ou à auscultação das instituições locais as quais também poderão ser de âmbito associativo ou corporativo.

Em suma, uma reforma política-administrativa, com real e positivo impacto nos sectores económicos e financeiros, passará impreterivelmente por mais democracia directa ou semidirecta. Aliás, apenas com esta haverá mais envolvimento dos cidadãos nos problemas que lhes dirão respeito.

Aliás, esta é a única forma de democracia que se adequa à tradição municipalista portuguesa, a qual nada tem que ver com modelos de democracia representativa e partidária, a não ser desde os tempos dos caciques e do voto às cegas, tão bem descritos nos romances de Júlio Diniz. Bem diferente da participação activa nos assuntos concelhios e nas cortes, exemplificada, com alguma ficção bucólica à mistura, por Francisco Rodrigues Lobo, passe a diferença quanto aos meios tecnológicos e à demografia da época em questão.
Também publicado aqui

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma questão comezinha!

A palavra parece estar na moda. Tanto quanto sabemos, alguém a terá pronunciado na TV (não temos a certeza, porque raramente vemos televisão) e, por desuso dela, foi objecto de comentário.
Pois o assunto é, efectivamente comezinho e conta-se em dois tempos.
Moramos, por desgraça nossa, numa rua do Porto onde passa a linha imaginária, divisória de duas freguesias. Não pertence a nenhuma das duas nem pertence a ambas. E, se calhar por isso mesmo, ninguém lhe liga.
É, ainda, uma rua calcetada a paralelo, já bastante puído pelo uso. E que uso! Passam por lá, diariamente, centenas, senão mesmo mais de um milhar de carros. Autocarros já passaram, deixaram de passar e já voltaram outra vez fazendo estremecer as construções, apesar do sólido granito das paredes. As condutas das águas pluviais e os bueiros correspondentes, frequentemente entupidos, transformam a rua num riacho, quando chove demais ou rebenta uma qualquer tubagem da água, que se remenda quando e como se pode.
A maioria dos paralelos está solta ou quase. Afastados entre si, em muitos casos, dois ou três centímetros, evidenciam os interstícios donde, há muito, a terra ou areia que os deveria unir já desapareceu. O ruído do trânsito, ampliado pelas circunstâncias, é um pesadelo nocturno.
Residimos, aqui, há, salvo erro, quatro gerações. Mais duas estão na calha. E, que me lembre, não houve, até agora, autarca que nos valesse!
Ah! Já nos esquecíamos! A rua em questão fica numa zona da cidade considerada nobre (Antas), o que, contrariamente ao que os meus concidadãos dos bairros sociais possam pensar, não lhe traz qualquer vantagem, Bem pelo contrário, como se vê.

E porque ontem se comemorou o 1º. de Dezembro...

...aqui fica, sem comentários, este poema, este texto e este, ainda!