quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre a Nação e o Nacionalismo

De modo genérico, revejo-me nas permissas do Nacionalismo, enquanto este compreende a Nação como uma entidade moral e intemporal. No seio desta entidade é suposto haver um colectivo com uma identidade própria, a qual é reconhecida e assumida pela maioria dos Portugueses. Revejo-me no Nacionalismo enquanto defesa dessa mesma identidade e dos valores e das instituições que lhes estão subjacentes.

Neste sentido, penso que o nacionalista deve repudiar a ingerência e a adopção de modelos e valores estranhos e estrangeiros – em especial quando estes nada de bom acrescentam e se revelam inadaptáveis à nossa cultura e tradição –, assim como outros que, tidos como valores e premissas nacionalistas vindos de outras paragens, na sua essência e na sua intenção representam a antítese daquilo que podemos definir como Portugalidade - isto é, conjunto de valores, tradições e características étnicas e culturais de Portugal. Neste conjunto de valores, tem sempre de se assumir, independentemente da crença ou descrença de cada um, a matriz cristã, católica que de modo indelével marcou e marca a entidade e a identidade de que aqui se fala.

Existem princípios e objectivos de alguns nacionalismos cujos ecos cá chegam e acriticamente são, muitas vezes, adoptados. Alguns deles representam a mais pura antiportugalidade. É o caso do zelo pela supremacia e pela pureza rácica de uma suposta etnia nacional, que no nosso caso – pelo menos do ponto de vista biológico, genético e antropológico – definitivamente não existe. Já Herculano, seguido de Oliveira Martins e de Orlando Ribeiro desmistificaram fundamentadamente o mito da Lusitânia e dos Lusitanos.

A abordagem dos problemas relacionados com a imigração merecem também uma análise crítica, tendo como ponto de reflexão aquilo de deve ser entendido como espaços e povos lusófonos e os próprios antecedentes históricos da diáspora portuguesa.

Por outro lado, a abordagem das questões relacionadas com a Globalização, seja ela cultural ou económica, estão longe de ser lineares para quem tem preocupações nacionalistas e identitárias. Pois a tradição deve ser estudada de modo a identificar aquilo que de externo ela própria contém. E daí concluir-se que a rejeição liminar e definitiva de tudo quanto vem de fora não apenas é contraproducente como vai contra a tradição nacional em si mesma.

No ponto de vista económico, creio que não é de todo em todo antinacionalista ter a noção dos inconvenientes e dos falhanços dos modelos proteccionistas, em especial os do tipo colbertista, não apenas em Portugal como por esse mundo fora. Contudo, rejeição mais veemente me merece um livre-cambismo desregulado e submetido a interesses estranhos à Nação.

Não creio o que escrevi atrás seja alguma forma de subjectivismo ou de relativismo. Também não é nenhum apelo à moderação e muito menos ao politicamente correcto, conceitos que a mim pouco dizem. Estou convicto de que para se defender Portugal, há que pensá-lo primeiro e conhecer aquilo que ele foi, é e poderá ser. Aquilo que é mito e aquilo que pura e simplesmente permanece. No entanto, estou consciente de que outros nacionalistas e não-nacionalistas podem fazê-lo muito melhor do que eu.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Momento de poesia de Natal

NATAL...

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
'Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

FERNANDO PESSOA
Notícias Ilustrado, 30 de Dezembro de 1928

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Red Bull dá asas ao socialismo centralista

Muito foi dito e ainda se poderá dizer sobre o famigerado caso da deslocação do evento Red Bull Air Race do Porto para Lisboa. Podemos bradar contra a crónica centralização, contra a macrocefalia, contra o sistema, contra o País e apontar mil e um culpados e excitar os mais disparatados bairrismos. A mim o que mais interessa é a perspectiva municipalista.
Dentro desta perspectiva, soa um pouco a procedimento de qualidade duvidosa o total de cerca de um milhão e trezentos mil euros que o evento custou à empresa pública Turismo de Portugal durante os três anos que foi efectuada na Invicta, mesmo que o retorno das receitas fiscais em termos turísticos e hoteleiros cobrisse boa parte do investimento e se estivesse a contribuir para o fomento do turismo da região - o que na minha opinião foi manifestamente insuficiente. Por outro lado, todavia, não deixa de ser um aviltamento despudorado que essa mesma empresa invista um montante de quase o dobro para transferir o evento para Lisboa.
Numa perspectiva municipalista cada uma das cidades pode organizar os eventos que seja capaz de assumir em termos financeiros e de infra-estruturas. Nunca se daria uma transferência de um evento de uma cidade para outra à custa o erário público e sob a responsabilidade de uma empresa pública, com custos associados e muito prejudiciais para uma região de Portugal.
Numa perspectiva municipalista, quem quer brincadeiras com aviõezinhos, carrinhos, futebóis e quejandos pois que as pague do seu bolso. Se assim fosse, pouco me ralava com o voo dos planadores para Lisboa, para Hong Kong ou para a Conchichina.
Enfim, temos o Socialismo no seu melhor - o centralismo pago pelo bolso do contribuinte.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O futuro da democracia portuguesa

Dentre os vários desafios que esperam o País no futuro, a bem da própria sobrevivência, o sistema político-eleitoral, ou seja o tipo de democracia a adoptar, será um deles. Talvez o mais importante, pelo facto de com ele se relacionarem outros aspectos. Como por exemplo, o que respeita à reforma administrativa, caso a descentralização venha a concretizar-se. Seja através da regionalização ou de outro processo alternativo - como o municipalismo -, os processos eleitorais deverão obedecer a outro tipo de batalhas políticas com outro tipo de representatividade diferente da partidária. Isto irá implicar a adopção da democracia directa sob a forma referendária e plesbicitária com vista à resolução de questões de governo local.

O envolvimento dos cidadãos nas decisões políticas de âmbito local irá desencadear e fazer evoluir, mais cedo ou mais tarde, uma consciência política e cívica bem mais interventiva e exigente do que a actual e isso irá repercutir-se nas questões de âmbito nacional. O governo nacional, por sua vez, verá delegados muitos dos problemas actuais para o foro local ou regional, provavelmente incluindo questões relacionadas com a saúde, a educação e a cultura. A partidarite e os respectivos jogos de influências terão, portanto, de alterar seus contextos e o sistema partidário poderá deixar de ser tão decisivo e dar lugar a uma revisão constitucional de grande monta - bem necessária e tardia, diga-se. Por sua vez, as questões nacionais esbarrarão sempre no novo poder local, o que por seu turno dará origem a duas possíveis situações: referendos nacionais de sufrágio universal - mais democracia directa, portanto -, ou à auscultação das instituições locais as quais também poderão ser de âmbito associativo ou corporativo.

Em suma, uma reforma política-administrativa, com real e positivo impacto nos sectores económicos e financeiros, passará impreterivelmente por mais democracia directa ou semidirecta. Aliás, apenas com esta haverá mais envolvimento dos cidadãos nos problemas que lhes dirão respeito.

Aliás, esta é a única forma de democracia que se adequa à tradição municipalista portuguesa, a qual nada tem que ver com modelos de democracia representativa e partidária, a não ser desde os tempos dos caciques e do voto às cegas, tão bem descritos nos romances de Júlio Diniz. Bem diferente da participação activa nos assuntos concelhios e nas cortes, exemplificada, com alguma ficção bucólica à mistura, por Francisco Rodrigues Lobo, passe a diferença quanto aos meios tecnológicos e à demografia da época em questão.
Também publicado aqui

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma questão comezinha!

A palavra parece estar na moda. Tanto quanto sabemos, alguém a terá pronunciado na TV (não temos a certeza, porque raramente vemos televisão) e, por desuso dela, foi objecto de comentário.
Pois o assunto é, efectivamente comezinho e conta-se em dois tempos.
Moramos, por desgraça nossa, numa rua do Porto onde passa a linha imaginária, divisória de duas freguesias. Não pertence a nenhuma das duas nem pertence a ambas. E, se calhar por isso mesmo, ninguém lhe liga.
É, ainda, uma rua calcetada a paralelo, já bastante puído pelo uso. E que uso! Passam por lá, diariamente, centenas, senão mesmo mais de um milhar de carros. Autocarros já passaram, deixaram de passar e já voltaram outra vez fazendo estremecer as construções, apesar do sólido granito das paredes. As condutas das águas pluviais e os bueiros correspondentes, frequentemente entupidos, transformam a rua num riacho, quando chove demais ou rebenta uma qualquer tubagem da água, que se remenda quando e como se pode.
A maioria dos paralelos está solta ou quase. Afastados entre si, em muitos casos, dois ou três centímetros, evidenciam os interstícios donde, há muito, a terra ou areia que os deveria unir já desapareceu. O ruído do trânsito, ampliado pelas circunstâncias, é um pesadelo nocturno.
Residimos, aqui, há, salvo erro, quatro gerações. Mais duas estão na calha. E, que me lembre, não houve, até agora, autarca que nos valesse!
Ah! Já nos esquecíamos! A rua em questão fica numa zona da cidade considerada nobre (Antas), o que, contrariamente ao que os meus concidadãos dos bairros sociais possam pensar, não lhe traz qualquer vantagem, Bem pelo contrário, como se vê.

E porque ontem se comemorou o 1º. de Dezembro...

...aqui fica, sem comentários, este poema, este texto e este, ainda!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Câmara do Porto com Plano contra a Corrupção

Não pudemos acreditar no que lemos! Não é que o Plano prevê a denúncia, por parte dos colaboradores da Câmara, de “algum procedimento ilegal praticado por um colega”? Como dizia o outro: está tudo doido! Alguém imagina as vingançazinhas que isso pode acarretar? Os medos recíprocos que se desenvolverão? O ambiente de trabalho em que se cairá?
Não! Nunca se acabará com a corrupção e, por este caminho, muito menos. Diminuí-la é possível com uma permanente auditoria aos diversos departamentos, por pessoal externo e constantemente rodado. E, aqui sim, as denúncias dos cidadãos utentes.
E, já agora, que rapidamente desapareça a mentalidade, de que é paradigma a afirmação do director municipal de Finanças e Património a propósito da operação do Aleixo: que a autarquia lucrará independentemente de haver ou não alteração do PDM. Mas que raio de “empresa” é esta (e tantas outras, por esse país fora) cuja preocupação é ganhar dinheiro? Não existem, as câmaras, para servir os munícipes? Será que é isso que fazem? E depois querem acabar com a corrupção! Não nos façam rir!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Regionalização e Municipalismo

Dois homens de esquerda, Pedro Baptista, do PS e Manuel Correia Fernandes, socialista não filiado, discutiram, num almoço promovido pelo semanário Grande Porto, entre outros temas, a Regionalização.
Sampaio Pimentel, do PS-Porto vem também a terreiro defender a Regionalização, e Luiz Filipe Menezes, do PSD, quer a Regionalização na presente legislatura. Não falta, pois, quem queira a Regionalização, apesar de haver, ao que parece, igualmente muita gente, que a não quer.
Apontada como coisa excelente que permitirá inequívoco desenvolvimento local, longe do centralismo lisboeta mas próxima dos fundos europeus, a Regionalização, tal como parece ser concebida pelas personalidades referidas, não passará, em bom rigor, de uma área administrativa ainda mais afastada dos cidadãos, intercalada à força entre o Município e o Governo, geradora de burocracia e proporcionadora de sinecuras aos profissionais da política.
Defendemos, em seu lugar, a implementação do Municipalismo na administração pública. Aquele Municipalismo a que se referia Herculano e que António Sardinha tão bem sintetizou nas suas “Teses”, as primeiras das quais podem, neste Café, ser lidas.
Post Scriptum (5.11.09) - Veja mais aqui.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Leitura obrigatória para quem advoga o municipalismo

D' O Corcunda, As coisas mais estranhas in O Pasquim da Reacção
Que “autarkhea” é essa que vive de outros, que não se encontra limitada pela própria capacidade de gerar recursos? É evidente que nenhuma subsidiariedade existe ou nenhuma descentralização é possível sem recursos próprios e autónomos.Quanto à democracia-directa, quando é realizada com dinheiro de outros, tem o nome de socialismo. Onde se vota por algo que não pertence ao estrito domínio das posses dos votantes, acaba sempre por se admitir o crescimento exponencial das competências da mesma. O dinheiro com que as Câmaras constroem habitações sociais é do Estado Central… Está-se mesmo a ver os cidadãos a rejeitar uma free-ride aparente, em nome das empresas e postos de trabalho da zona!... Falar-se desta palhaçada como algo de tributário da tradição municipalista portuguesa não é apenas insultuoso, mas demonstra uma vontade de participação na brincadeira democrática que é ridícula. Na tradição municipalista portuguesa o carácter contributivo da política local impedia que o Estado adquirisse carácter assistencialista, confundisse o privado e o público, extravasasse as competências de que estava investido. Com actual sistema de administração local de recursos centrais, florescem os Jardins, os Loureiros e as Felgueiras, autênticos eucaliptos que secam o erário endividam o Estado para a sua manutenção no Poder.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre o Porto

Rui Rio não é homem de erguer monumentos ao betão armado, nem de rasgar avenidas, ou fazer rotundas e fontes luminosas. Aliás, nada disso foi preciso para se sentir diferenças visíveis na revitalização da Baixa e um regresso da procura de habitação no centro da cidade. A Sociedade de Requalificação Urbana e sua estrutura descentralizada, despartidarizada e autónoma tem feito o seu trabalho com parcos recursos. Mas, tem-no feito.

Rio também não é homem dos conluios e consensos provincianos que se fazem sentir até mesmo na capital do País. É um homem que encarna o espírito da Invicta no que toca a rigor nas contas e ao amor à liberdade.

Está longe de ser um homem e presidente perfeito. A câmara ainda tem muito trabalho para fazer, sobretudo na desburocratização de processos, na requalificação da zona histórica, na captação de investimentos e no relacionamento com algumas forças vivas da cidade.

Os seus opositores, em especial o PS e a sua candidata, pretendem retomar a política de mumificação da zona histórica e seu consequente esvaziamento populacional que tanto mal já fez no passado. Gozam com sua sobranceria elitista com a nova vida que a Baixa tem, pois na verdade detestam a população mais popular do Porto - a qual pelo visto lhes recusa votos - e têm pena de não haver mais feiras populares para transferir para a Circunvalação, de não poderem... transferir o Bolhão talvez para a "zona industrial" e transformar a Avenida num recinto de festejos das vitórias do FCP, desde que não haja barracas de farturas, que horror!, que pelos vistos chocam os apuradíssimos gostos estéticos manifestados no desagrado pelas festas de Carnaval que tiveram lugar na avenida - afinal os museus não costumam ter barraquinhas.

Passados cerca de oito anos, as más políticas dos mandatos PS ainda fazem sentir seus efeitos, tendo estado em equação a demolição dos mamarrachos que foram então erguidos, sendo estas inviabilizadas pelos elevados custos que acarretariam. Isto para não falar nas obras deficientemente concretizadas, cujas empreitadas sabe Deus como foram adjudicadas, em variadas zonas do centro da cidade.

domingo, 20 de setembro de 2009

Aqui perto luta-se pela vida...



Enquanto que em breve em Portugal alguns irão lutar pela morte - eutanásia...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Tão básico que até esquece

Há questões básicas que são convenientemente omitidas de modo permanente pela classe política, em especial em período de campanha eleitoral, mesmo com a ausência dos outrora habituais e demagógicos soundbytes dos comícios. São questões que constituem pura e simplesmente o reverso da medalha de qualquer medida popularucha à laia de promessa. Estas são imensas, por isso impõe-se uma selecção das que mais impacto me causaram. Note-se que o reverso da medalha não tem de ser necessariamente negativo. Assim:

  • quando se fala em baixar os impostos oculta-se o reverso da medalha da consequente imposição de baixar a despesa pública, o que inclui em grande medida várias prerrogativas do Estado social;
  • quando se fala em estimular a agricultura e os sectores produtivos nacionais oculta-se as consequências das actuais e anteriores políticas agrícolas comuns impostas pela UE e a falta de diligência de este e de outros governos na defesa da nossa agricultura e pescas, assim como a falta de autonomia nacional na gestão destas se tratados e políticas federalistas vencerem; por outro lado oculta-se os maus resultados do proteccionismo ao longo da história de Portugal e do Mundo, para não falar dos efeitos desastrosos da política do subsídio, levada a cabo pela UE;
  • quando se fala em aumentar a competitividade das empresas oculta-se a necessidade de reformas nas leis laborais, em especial nas contratuais e nos atributos e organização sindicais;
  • quando se fala em investimento público, sob forma de subsídios de incentivo a isto, àquilo e aqueloutro, ou de obras públicas, oculta-se que estes apenas são possíveis com o aumento de receitas para as contas públicas as quais são sempre os mesmos a pagá-las: classe média e profissionais liberais;
  • quando se fala em estimular a natalidade e na protecção às famílias, oculta-se as causas e os efeitos que a instituição família tem vindo a sofrer através de uma legislação progressista que banaliza as relações conjugais e a vida humana, e que se por um lado deixa de fazer sentido apoiar famílias quando estas quase não existem ou estão em plena dissolução, por outro são elas próprias que custeiam com seus impostos o estado social que é suposto auxiliá-las na subsistência – isto para não falar em esquemas de parasitismo criados à custa da relação dos nascimentos com o RSI e os abonos vários.

Neste sentido, as campanhas continuam no seu faz-de-conta, num país cujo povo "democraticamente" deposita seu voto em todos aqueles que apenas se lembram de sua existência nestes carnavais de campanha ou quando as trombetas dos barómetros de popularidade assopram impertinentes.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma Ideia Quase Municipalista

Como convictos municipalistas acreditamos que a melhor governação resultará de um auto-governo onde todos, de algum modo, participarão directamente da gestão das coisas comuns. Onde os interesses de todos, mas também os de cada um, sejam olhados com a mesma objectividade e onde impere o consenso na busca das soluções e nunca a ilusória maioria dos votos.

Constantemente nos interrogamos como atingir tal desiderato. Não falta quem advogue a complexidade da ideia e a sua inexequibilidade. Sobretudo num sistema como o existente, de democracia representativa, onde o voto – mesmo que de uma minoria – ganha foros de única verdade.

Um pequeno artigo de opinião, subscrito pelo professor universitário António Cândido de Oliveira e publicado no jornal “Público” de 26 do pretérito mês de Agosto, abriu-nos um caminho.

Não é, ainda, municipalismo, muito longe disso. Mas é, digamos assim, um pouco dele, e perfeitamente exequível no âmbito deste sistema representativo. Capaz, apesar de tudo e por muito pouco que seja, de contrariar o caciquismo e a prepotência e de estancar ou, pelo menos, de diminuir a corrupção que grassa no poder local. Facilmente se reconheceriam, então, os pequenos ditadores de campanário e, quem sabe, não contribuiria até para evitar estas vergonhosas e sucessivas recandidaturas dos mesmos de sempre, incapazes de se desapegarem do poder.

Propõe o autor do artigo que as Assembleias Municipais – e também, nada o impede, as de Freguesia – passem a reunir, não apenas as vezes que a Lei determina (5 vezes por ano, as Municipais e 4 as de Freguesia) mas algumas mais vezes. Pela nossa parte proporíamos, pelo menos, uma reunião mensal – digamos antes e em termos práticos eliminando Agosto, 11 vezes por ano - em sessão convocada pelo respectivo presidente, que tem poderes para isso, aberta à população, tendo em vista o debate dos variados assuntos de carácter local. O autor entra em pormenores que me parece desnecessário transcrever, mas que têm um interessantíssimo sentido prático.

Quando, noutro lugar, defendemos que as populações saberiam, com maior ou menor dificuldade, encontrar um processo de colocar em campo a filosofia municipalista, não nos enganámos, como se vê. Muitas mais ideias surgirão, estamos certos, sempre no sentido da democracia directa, a real e verdadeira democracia.

domingo, 23 de agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A incongruência paga grande imposto

Os impostos não agradam nem nunca agradaram a ninguém. Seja qual for a sua forma, legislação e modo de colectar, eles são o mal necessário para a existência de um Estado, de uma comunidade local ou outro agrupamento social com identidade própria. Seja qual for o tipo de comunidade e a sua estrutura, o indivíduo está e estará sempre inserido num meio social cuja origem e finalidade o ultrapassam.
Neste sentido, desde tempos imemoriais foram feitas tributações em todo o tipo de comunidades, cujo dever contributivo ultrapassava os estratos sócio-económicos e o tipo de contribuição concedida. Como modo de simplificação da colecta, foi criado o conceito de dízimo, ou a décima, que como o nome indica representava 10 por cento dos rendimentos auferidos em dado período de tempo, fosse qual fosse o tipo de contribuição, em género ou valor monetário.
Daqui concluímos que desde as formas mais rudimentares de tributação até às primeiras formas de cobrança efectiva com uma organização assente em legislação elaborada para o efeito, que os impostos se tratam de um aspecto inerente ao espírito gregário do Homem, pois apenas fazem sentido num contexto social e comunitário essenciais à sobrevivência deste, mas cujos fins e modos de colecta podem variar imenso. Neste aspecto, como noutros, a tradição pode ser um guia bastante válido. As formas de tributação mais rudimentares, não perdiam eficácia pela simplicidade da sua estrutura e dos cálculos contributivos. A taxa única era aplicada a todos independentemente de seus rendimentos. Deste modo, as fugas e os estratagemas de esconderijo de rendimentos para colecta eram bem mais reduzidos, embora por vezes existentes. Todos sabiam que a proporção com a qual contribuíam nunca poderia ser desajustada ao seu estatuto social e sinais exteriores de riqueza.
Hoje, podemos ser superiores em número e muitos de nós sermos criaturas anónimas cujos rendimentos permanecem na obscuridade. Porém, também sabemos que os métodos de evasão fiscal são mais eficazes nos regimes complexos do que nos simplificados. Neste sentido, uma contribuição única consoante uma taxa uniforme será, obviamente, mais fácil de colectar e em relação à qual são mais facilmente detectadas infracções do que a complexidade dos escalões actuais, plena de incongruências, típica dos regimes sociais-democratas.
Este conceito pode aplicar-se a todo o tipo de tributações, seja elas nacionais ou locais. Estas últimas estão plenas de incongruências, com regimes de isenção autárquica e de atenuantes a contrastarem com exorbitâncias - as quais têm contribuído para o abandono de muitas cidades.
Daí que o único regime contributivo, com um mínimo de lógica e de moralidade, é o da taxa única sobre qualquer tipo de rendimento, pois "os ricos", seja lá qual for essa entidade misteriosa, nunca pagaram crise nenhuma em nenhum lado através da contribuição fiscal mas sim pelo seu investimento e empreendedorismo voluntários.
A título algo utópico e futurista, poderíamos equacionar um regime fiscal assente apenas no consumo. O qual, pelos vistos, não é tal "propulsor" da economia como durante tanto tempo nos "venderam". Contudo, os tratados dos eurocratas têm vindo a impedir uma livre gestão do IVA, a qual seria essencial para o estabelecimento de políticas fiscais nacionais equilibradas e mesmo abolição a curto ou médio prazo de tributações anquilosadas e incongruentes, tais como o IRC e a dupla tributação no sector automóvel. A liberdade efectiva de um povo reflecte-se essencialmente na política fiscal à qual está sujeita, e a tendência da UE, neste sentido, é para coarctar cada vez mais essa liberdade. Pelo menos, enquanto os respectivos povos votarem nos partidos federalistas.

domingo, 16 de agosto de 2009

Tema musical da semana

À semelhança do que venho fazendo no meu blog pessoal, pretendo d'hoje em diante postar aqui, pelo menos uma vez por semana, um clip audiovisual com relação directa às tradições musicais e/ou culturais da nossa terra e das nossas gentes.
Deste modo também promovemos alguns artistas e agrupamentos cuja criação artística é dedicada, no mínimo em parte, à música tradicional do Norte de Portugal, assim como da Galiza.
Entendo que para a nossa área política, constituída de modo genérico por conservadores, nacionalistas e anarco-nacionalistas, as tradições culturais e étnicas são tão ou mais importantes do que os aspectos ideológicos e tecnocráticos (os quais não constituem dogmata para os conservadores como eu).
Esta semana apresento-vos o tema dos Sangre Cavallum, Noite de Solstício:


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As juntas de freguesia e o afastamento do poder

No âmbito de um trabalho em curso que tenho em mãos sobre um dos bairros mais emblemáticos da cidade do Porto, procurei na junta de freguesia respectiva obter dados estatísticos e de informação quantitativa e qualitativa sobre as condições económicas e sociais do dito bairro. Para meu espanto, à dita junta, que é o mesmo que dizer a todas as outras com as mesmas especificidades, foram retiradas todas as competências no que diz respeito ao controlo dos dados populacionais e respectiva evolução e comportamentos migratórios, assim como todo o controlo informativo no que toca à intervenção social.
A culpa não será da referida junta de freguesia, mas sim de um sistema que afasta os cidadãos do núcleo de poder que estaria mais próximo deles.
Tomando como princípio que estes dados seriam essenciais para uma melhor intervenção de um órgão como a junta de freguesia sobre o restrito número de população que lhe está submetido, não surpreenderá, deste modo, a chegada do dia em que se questione a sua função e utilidade -com todo o respeito pelo trabalho meritório de muitas delas de apoio aos crianças e à terceira idade. Será Lisboa ou Bruxelas a ocupar-se de tão recônditos locais e de seus problemas?

Algumas questões sobre o poder local e a descentralização

Um dos argumentos contra a regionalização, ou qualquer outra forma de descentralização efectiva que aumente as prerrogativas do poder local, consiste no apontar de exemplos de autarcas corruptos e de autarquias endividadas. O caciquismo local é erguido como um fantasma que permanece nos mais recônditos lugares do "país profundo" e segue-se um encolher de ombros resignado e conformista em relação ao poder central e à macrocefalia que não pára de crescer.
As circunstâncias que deram, e dão, origem à corrupção e actos de gestão danosa das autarquais e demais órgãos do poder local são muito variadas e desde o 25 de Abril conheceu um agravamento, em parte, devido a alguma vacuidade legislativa e à ineficácia administrativa, face às novas atribuições e modo de eleição. Situação que levou à intervenção do actual governo, dando origem a nova legislação de eficácia e qualidade duvidosas.
A falta de consequências penalizadoras em relação a gestões danosas, os programas de financiamento disto e de mais aquilo e aqueloutro e os fundos estruturais que durante anos entraram via UE criaram todas as condições para uma mentalidade laxista e facilitista, quando não mesmo desonesta. A partidarização e as dificuldades criadas a listas não partidárias e o alheamento e falta de intervenção cívica por parte da população, em grande parte desenraizada do local onde vive, contribuem para a falta de controlo neste tipo de casos.
Mais razões poderiam ser aventadas, algumas com uma certa especificidade local e temporal, o que tornaria o presente texto ainda mais longo. O que se pretende aqui referir é que o aumento de responsabilidade, o que equivale a dizer de atribuições de poder executivo, não implica obrigatoriamente o aumento de corrupção passiva e/ou activa nem de gestões danosas. Quando vêm a lume os caso Felgueiras, Loureiros, Isaltinos e quejandos, o impacto mediático encobre todo o contexto de facilitismo e de más políticas nacionais as quais deram azo a tais actos. Por outro lado estes são exemplos do produto dos aparelhos partidários, os quais sempre tiveram acesso privilegiado ao órgãos de poder local.
As pessoas em geral, segundo estudos vários, são mais participativas e interventivas nos assuntos políticos, governativos e de utilidade pública quanto mais próximo e acessível sentirem o poder de decisão. Ora, este mesmo poder está na maioria dos casos muito distante do seu local de residência e os problemas que concernem a esse mesmo lugar têm muitas vezes de serem relegados para os órgãos de decisão central.
Neste sentido, não são as atribuições de poder que geram a corrupção mas sim a falta de vigilância e a demissão das forças activas locais. As responsabilidades de quem governa são sempre sacudidas para quem se encontra no patamar acima e nesse campo os autarcas, mesmo os mais corruptos, não podem responsabilizar-se por competências que não são as suas.
Por sua vez, o sistema de financiamento partidário, pleno de especificidades locais dá origem à criação de clientelas e de relações corruptas com alguns sectores, entre os quais a construção civil, imobiliário e a indústria.
Por conseguinte, antes de se proceder à dita regionalização, e começar a rasgar o território em mapas cor de rosa, dos quais nenhum agradará a boa parte da população afectada pelas divisões criadas, teria de haver alterações estruturais profundas e, mesmo, constitucionais. Por outro lado, os divisionismos regionais terão todos um carácter artificial propícios a criar novas "lisboas". Por isso, estou convicto que a melhor descentralização efectiva terá de ir ao encontro dos núcleos locais já criados e definidos ao longo dos tempos. Esse modelo será o municipalismo. Mas isto dará origem a outro texto...
Também publicado aqui.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Banca e o Municipalismo

Somos adeptos da iniciativa privada e da livre concorrência. Não aceitamos, todavia, o poder do capital ultra-radical que condiciona, sem piedade, as nossas vidas e nos mantém eternamente dependentes.

Como se pode explicar que o Santander-Totta tenha apresentado lucros semestrais, que montam a 278 milhões de euros, isto é, mais elevados 1,7%, do que no mesmo período de 2008? A actividade do Santander-Totta foi ainda mais lucrativa num período de crise profunda do que em tempos de normalidade económica! Daqui se conclui que, inequivocamente, a crise é um bom negócio!

Salvo, como outros bancos, pela intervenção avalizante deste Estado socialista – a pretexto de se salvarem os dinheiros dos depositantes – a opção por spreads elevados e incomportáveis para a generalidade dos agentes económicos compensou largamente a descida das taxas de referência.

Num contexto Municipalista, obrigatoriamente deveria destinar um quinhão do seu crédito a conceder aos pequenos empresários locais, a taxas acessíveis e sem as habituais comissões que raiam a imoralidade. Porque os ossos não são só para uns (muitos) roerem, enquanto que outros (muito poucos) se banqueteiam com a carne.

Dizia-se, há muitos anos, que a bancarrota de um país era proporcional ao enriquecimento da banca! Nada mais verdadeiro! Banca rica, bancarrota!

«imagem roubada de um blogue amigo...»

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Candidatos!

Quem vai acompanhando esta pré-campanha (ou será já campanha?) autárquica rapidamente se habituou às acusações que, mutuamente, os diversos candidatos vão fazendo.

Pouco falam da cidade e, menos ainda, das suas gentes. Auto-enaltecerem-se é o padrão do discurso. Raramente são referidas as reformas estruturais de que a Câmara necessita e, ainda menos, as que a cidade efectivamente precisa. Ninguém assume a responsabilidade, por acção ou omissão, do autêntico crime que foi o arranjo urbanístico da Avenida dos Aliados, nem do estado em que, há anos, se encontra a Avenida da Boavista, incluindo a Praça Mouzinho de Albuquerque.

Se isto é que é a política – e, ainda por cima, a autárquica – que Deus nos valha!

Ensina-nos o Municipalismo que “aquilo que é comum interessa a todos” e, por isso, o PORTO DA LIBERDADE vem reafirmar a necessidade das populações, através das suas forças vivas, serem ouvidas quanto aos assuntos que lhes dizem respeito e as suas opiniões tidas em conta. Afinal, os “governantes” estão lá exactamente para isso: para trabalharem em nome do povo e não para fazerem aquilo que, pensam eles, o povo deveria querer. O mais grave é que, frequentemente, nem sequer acertam!

Democracia e Democratas

No início deste mês um estudo da SEDES concluia, segundo o "Público", que o "maior problema da democracia é o descrédito da Justiça". Porventura terá razão. Todavia, quanto a nós, o maior problema da democracia são os democratas! Sobretudo "estes" democratas!

Mais tarde, o mesmo "Público" dá-nos a conhecer um outro estudo, desta vez do Barómetro de Opinião Hispano-Luso 2009, que nos garante haver 40% de Portugueses ( e, aqui, hesitámos escrever com maiúscula!) favoraveis a uma federação ibérica de Estados.

Não imaginava tantos Migueis de Vasconcelos! Que há Migueis esquisitos nas suas orientações, parece que há. Agora, traidores?!! Que vergonha! Venderem-se por um prato de lentilhas!

domingo, 26 de julho de 2009

"Nós, Europeus" não somos socialistas!

Na Europa venceu aquilo que falta em Portugal. Uma direita organizada, objectiva e com uma comunicação sincera, clara e límpida."Nós, Europeus" afinal não somos socialistas nem neo-socialistas; "Nós, Europeus" não vamos nas balelas do costume que demonizam o mercado; "Nós, Europeus" não nos encolhemos junto ao papá-Estado com medo da crise; "Nós, Europeus" achamos estranho que a extrema-esquerda tenha em conjunto mais de 20% dos votos apenas num país, no qual já tanto mal fez sem nunca ter sido responsabilizada."Nós, Europeus" gostamos das NOSSAS NAÇÕES E NÃO QUEREMOS FEDERALISMOS CENTRALISTAS!
Na verdade, começa desde já a fazer falta o Partido da Liberdade, em relação ao qual não faltarão parceiros europeus com as mesmas, ideias, objectivos e preocupações.
Escrito por PFelix em 8 de Junho de 2009

Da Liberdade


No meio de um povo geralmente corrupto a liberdade não pode durar muito
Edmund Burke in "Carta aos Xerifes de Bristol"

A palavra liberdade, como muitos outros conceitos filosóficos e morais, já está tão gasta por ser repetida em circunstâncias diversas que o seu significado tem vindo a perder-se, a ser deturpado e muitas vezes manipulado.O mais comum é que cada um de nós lhe dê o seu próprio significado, condicionado pela sua percepção e concepção do mundo. E aí, no meu entender, começam os logros.Há filósofos que eivados de vãs intenções progressistas vinculam o conceito de liberdade ao de igualdade. Nada mais falso do que acriolar um princípio absoluto como a liberdade a uma quimera anti-humana. Nem chega a ser utópico, por tão contranatura que é. Há quem o vincule à justiça e a valores morais que se prendem a questões sociais. Meros devaneios de quem quer encerrar em ideologias conceitos que devem ser absolutos e quase extra-humanos. São as ideias quase inatingíveis, entre as quais a liberdade, que levam a uma vontade visionária de querer transformar uma sociedade e de a reformar não com base em sistemas abstractos mas numa tradição perene assente em princípios absolutos e incorruptíveis os quais nortearão, com algum quê de utopia, a praxis política e a intervenção cívica.A liberdade far-se-á sentir, então, numa acção criativa e edificadora do Homem sem as amarras por este criadas com base em interesses, desejos espúrios e em sistemas falidos. A máquina burocrática, o nepotismo dos aparelhos políticos que vivem em função de quem os criou, e uma sociedade em degenerescência são os maiores inimigos da liberdade. Da liberdade autêntica, que é responsável e inerente à vontade inata do ser humano e da Natureza.
Escrito por PFelix em 5 de Junho de 2009